15 de dez. de 2012

Grata surpresa: guitarra Walczak Custom Shop e humbuckers Malagoli

Alguns dias atrás, anunciei a venda de uma guitarra na internet. Coisa de guitarrista, que de vez em quando, sofre crises crônicas de GAS, assim como outras espécies humanas que tendem ao profissionalismo quando se trata de seus hobbies. Detalhe é que eu fiquei um tempão interessado nessa guitarra anunciada, uma Tagima Vulcan. Vai entender...
Fotos feitas, anúncio publicado e uma vontade imensa de pegar uma boa Telecaster: esse era meu intuito. Aparecem os interessados de sempre, geralmente propondo trocas. Na nossa realidade, é muito difícil vender guitarras a particulares. Grana é coisa escassa, mas uma troca sempre deve ser analisada como uma boa opção, até mesmo porque o que vem no rolo pode ser revendido, trocado novamente e por aí vai.
Apareceu uma oportunidade de troca inusitada pra mim: uma Walczak Custom Shop. Não conhecia da marca mais que duas Teles de amigos que precisavam de regulagem e me agradaram, mas não chegaram a me impressionar. Marquei o encontro e efetuei a troca e aí está a belezinha oriunda da Custom Shop Division da Walczak:







Completamente customizada, a guitarra me remeteu imediatamente a uma Charvel San Dimas. Corpo de stratocaster em cedro-rosa, braço em marfim, ambos de excelente qualidade. O acabamento acetinado permite ver belíssimos veios do corpo contra a luz e o sustain proporcionado pelas madeiras selecionadas é incrível, chega a lembrar um teclado. Não há defeitos na construção e pode-se dizer que o trabalho da Walczak é admirável, digno de uma Custom Shop.
A chave é do tipo Les Paul de 3 posições e cada um dos potenciômetros é de volume, dotado de push-pull, splitando os excelentes humbuckers Malagoli Custom 59, no braço, e 84, na ponte. A ponte é fixa, as tarraxas são Planet Waves Auto Trim (com trava) e também foram instalados string retainers com roletes, para minimizar ao máximo a perda de afinação. Os trastes são os jumbo 6100, da Dunlop.
O resultado é uma guitarra confortável, de som extremamente equilibrado e excelente tocabilidade, versátil ao extremo. O dono anterior fez questão de que a guitarra tivesse a parte elétrica blindada com folha de cobre, o que faz dela um instrumento bastante silencioso. 
Não se deixe enganar pelo corpo de stratocaster. Os humbuckers Malagoli dão magníficos timbres de Les Paul a essa máquina de timbres. Soam gordos, bem cheios, repletos de equilíbrio em todas as frequências, mas convém dizer que achei os graves absolutamente perfeitos. Não embolam o som em momento algum, seja numa bela levada clean ou com drive. Lembram os modelos que servem de parâmetro, o Seymour Duncan 59 e o Gibson 84T (este último foi o captador que equipou a icônica guitarra usada por Eddie Van Halen na turnê do álbum 1984), mas não deixam de mostrar sua personalidade. Quando splitados, as possibilidades de timbre mudam completamente. Há sons que lembram stratocaster, no 59, com drive low-gain, bem como o 84 Custom splitado lembra bastante o captador da ponte de uma Telecaster. São excelentes timbres, tanto de humbuckers quanto de singles.
Deixando de ler pra ouvir, espero que curtam os samples que gravei usando apenas o miniestúdio digital Boss Micro BR, cujos efeitos são derivados da pedaleira Boss GT-6. Se quiser começar pelos sons com drive, role até o fim da postagem.

13 de dez. de 2012

Palhetada inicial

Salve, salve, guitarristas do meu Brasil!
Já faz um bom tempo que penso em criar um blog, mas só agora criei coragem. Apaixonado por guitarra como sou, este há de ser o assunto sobre o qual pretendo escrever a fim de trocar ideias e experiências. Quero começar falando sobre a razão do blog e o que pretendo fazer por aqui.
A geração de guitarristas que se forma nestes tempos é preponderantemente formada por gente conectada, que tem perfis em todas as redes sociais, anda de smartphone pra lá e pra cá, compartilhando fotos no Instagram, publicando sons e imagens de ensaios, passagens de som, shows seus ou de terceiros a todo momento no Facebook e outros canais. Por outro lado, também é formada por uma galera que tem tanta informação disponível que não consegue se concentrar, não consegue manter o foco em algo por muito tempo.
Disso tudo, se depreende que o tempo para se ouvir música e as formas de ouvi-la também mudaram. O vinil virou retrô, sumiu e agora volta aos poucos, subindo de preço e virando objeto cult ou exclusivo de coleções ou arquivos. O CD interessa cada vez menos, pois a mídia física, palpável, exige equipamentos de reprodução que em sua maioria não permitem mobilidade. Celulares, iPods, tablets e aparelhos automotivos ganharam grande importância no hábito de se ouvir música. Ouvimos música quase sempre em trânsito. Sempre me pego ouvindo Robert Johnson no meu Sony Ericsson Vivaz e penso que aqueles sons não foram feitos pra serem ouvidos em fones de ouvido plug-in-ear.
Chegando a este ponto, chego também na razão pela qual batizei este blog de The Tone Chamber, expressão inglesa para designar as cavidades criadas no interior do corpo de uma guitarra a fim de tornar o instrumento mais leve, entregando mais volume e um timbre mais acústico e natural. Independentemente dos suportes nos quais a música foi fixada (goma-laca, vinil, fita magnética, mídia óptica, disco rígido de computador, cartão de memória etc), ela sempre começou com uma boa melodia, um ritmo, um bom timbre gerado na mente de alguém. A verdadeira câmara de timbre é a nossa cabeça!
Vejo muita gente hoje lotando fóruns perguntando como fazer pra obter o timbre do Malmsteen, do Gilmour, do Satriani, do Hendrix, do Bonamassa, do Van Halen e de outros tantos. No entanto, se trata de gente com muito acesso à informação e pouca atenção ou tempo para assimilá-la. Assim, vemos guitarristas tecnicamente bons, com bom equipamento, que soam mal porque o timbre não começou onde deveria ter começado: na cabeça.
Outro dia ouvi de um amigo que um cara que toca na igreja dele, aos 20 anos de idade, tem uma Epiphone Les Paul e uma Boss GT-10. Deveria soar bem? Teoricamente, sim, mas soa mal. Como esse amigo - quarentão, com larga experiência musical - disse ao guitarrista em questão, "ele começou com o equipamento que eu sonhava terminar quando comecei". Facilidade de importação e acesso a equipamento de qualidade não substituem ouvidos ou mãos sensíveis, muito menos talento.
Penso que coisas assim são bastante comuns e tem suas raízes nas mudanças frenéticas de nossa época, na escassez de tempo para se parar tudo que se está fazendo e se ouvir um álbum inteiro, sem qualquer outra preocupação, sem que a música seja apenas o background do que se faz no computador. Estranho demais, por exemplo, quando ouço The Dark Side of The Moon e o celular faz questão de inserir pausas de 2 segundos entre as músicas, pausas que na verdade não existem, e que nem posso fazer nada para mudar isso. Aliás, já acho estranho ouvir o referido álbum em mp3 num fone de ouvido...
Alguns dos timbres mais seminais de guitarra vieram da simplicidade de uma boa guitarra e um amp decente pilotados por guitarristas que sabiam a diferença entre palhetar e dedilhar, tocar forte ou fraco, mexer no knob de volume da guitarra ou simplesmente trocar de captador em determinadas partes de uma música. Tudo isso precisa primeiro vir da cabeça. É necessário imaginação, criatividade, persistência e uma grande dose de paciência.
Apesar de não ser músico profissional no sentido mais completo da expressão, creio que tenho pelo menos ouvidos bem treinados e uma vontade incansável de sempre buscar o que creio ser um elemento indispensável, capaz de substituir malabarismos no braço da guitarra: o timbre. Assim, este será um blog de guitarra, como tantos outros, mas voltado principalmente pra questão do timbre, a marca que cada um de nós é capaz de imprimir na mente das pessoas mais comuns, que não fazem a menor ideia da diferença entre uma Fender Stratocaster 1954 e uma guitarra fake chinesa, mas que sabem muito bem dizer quando um som as emociona. Essa é a nossa missão, a função e finalidade do nosso timbre: emocionar as pessoas.