Salve, salve, guitarristas do meu Brasil!
Já faz um bom tempo que penso em criar um blog, mas só agora criei coragem. Apaixonado por guitarra como sou, este há de ser o assunto sobre o qual pretendo escrever a fim de trocar ideias e experiências. Quero começar falando sobre a razão do blog e o que pretendo fazer por aqui.
A geração de guitarristas que se forma nestes tempos é preponderantemente formada por gente conectada, que tem perfis em todas as redes sociais, anda de smartphone pra lá e pra cá, compartilhando fotos no
Instagram, publicando sons e imagens de ensaios, passagens de som, shows seus ou de terceiros a todo momento no
Facebook e outros canais. Por outro lado, também é formada por uma galera que tem tanta informação disponível que não consegue se concentrar, não consegue manter o foco em algo por muito tempo.
Disso tudo, se depreende que o tempo para se ouvir música e as formas de ouvi-la também mudaram. O vinil virou retrô, sumiu e agora volta aos poucos, subindo de preço e virando objeto cult ou exclusivo de coleções ou arquivos. O CD interessa cada vez menos, pois a mídia física, palpável, exige equipamentos de reprodução que em sua maioria não permitem mobilidade. Celulares, iPods, tablets e aparelhos automotivos ganharam grande importância no hábito de se ouvir música. Ouvimos música quase sempre em trânsito. Sempre me pego ouvindo
Robert Johnson no meu Sony Ericsson Vivaz e penso que aqueles sons não foram feitos pra serem ouvidos em fones de ouvido plug-in-ear.
Chegando a este ponto, chego também na razão pela qual batizei este blog de The Tone Chamber, expressão inglesa para designar as cavidades criadas no interior do corpo de uma guitarra a fim de tornar o instrumento mais leve, entregando mais volume e um timbre mais acústico e natural. Independentemente dos suportes nos quais a música foi fixada (goma-laca, vinil, fita magnética, mídia óptica, disco rígido de computador, cartão de memória etc), ela sempre começou com uma boa melodia, um ritmo, um bom timbre gerado na mente de alguém. A verdadeira câmara de timbre é a nossa cabeça!
Vejo muita gente hoje lotando fóruns perguntando como fazer pra obter o timbre do Malmsteen, do Gilmour, do Satriani, do Hendrix, do Bonamassa, do Van Halen e de outros tantos. No entanto, se trata de gente com muito acesso à informação e pouca atenção ou tempo para assimilá-la. Assim, vemos guitarristas tecnicamente bons, com bom equipamento, que soam mal porque o timbre não começou onde deveria ter começado: na cabeça.
Outro dia ouvi de um amigo que um cara que toca na igreja dele, aos 20 anos de idade, tem uma Epiphone Les Paul e uma Boss GT-10. Deveria soar bem? Teoricamente, sim, mas soa mal. Como esse amigo - quarentão, com larga experiência musical - disse ao guitarrista em questão, "ele começou com o equipamento que eu sonhava terminar quando comecei". Facilidade de importação e acesso a equipamento de qualidade não substituem ouvidos ou mãos sensíveis, muito menos talento.
Penso que coisas assim são bastante comuns e tem suas raízes nas mudanças frenéticas de nossa época, na escassez de tempo para se parar tudo que se está fazendo e se ouvir um álbum inteiro, sem qualquer outra preocupação, sem que a música seja apenas o background do que se faz no computador. Estranho demais, por exemplo, quando ouço
The Dark Side of The Moon e o celular faz questão de inserir pausas de 2 segundos entre as músicas, pausas que na verdade não existem, e que nem posso fazer nada para mudar isso. Aliás, já acho estranho ouvir o referido álbum em
mp3 num fone de ouvido...
Alguns dos timbres mais seminais de guitarra vieram da simplicidade de uma boa guitarra e um amp decente pilotados por guitarristas que sabiam a diferença entre palhetar e dedilhar, tocar forte ou fraco, mexer no knob de volume da guitarra ou simplesmente trocar de captador em determinadas partes de uma música. Tudo isso precisa primeiro vir da cabeça. É necessário imaginação, criatividade, persistência e uma grande dose de paciência.
Apesar de não ser músico profissional no sentido mais completo da expressão, creio que tenho pelo menos ouvidos bem treinados e uma vontade incansável de sempre buscar o que creio ser um elemento indispensável, capaz de substituir malabarismos no braço da guitarra: o timbre. Assim, este será um blog de guitarra, como tantos outros, mas voltado principalmente pra questão do timbre, a marca que cada um de nós é capaz de imprimir na mente das pessoas mais comuns, que não fazem a menor ideia da diferença entre uma Fender Stratocaster 1954 e uma guitarra fake chinesa, mas que sabem muito bem dizer quando um som as emociona. Essa é a nossa missão, a função e finalidade do nosso timbre: emocionar as pessoas.